quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

brevidades

O caminho entre o banheiro e a sala de jantar pode ser um trajeto um tanto quanto surpreendente. Assim foi, depois de 20 anos que ela se deparou com um detalhe que até então, não tinha recebido a atenção merecida. Aquele casal de velhinhos que se sentava na sala há 60 anos tinha um pedacinho dessa memória pregada na parede havia quase 40. Era uma moldura em mogno com alguns detalhes em dourado já apagados pelo tempo.  Na imagem aquele casal tão jovem jamais imaginava que tantos anos se passariam eternizados em um mero pedaço de papel. A jovem, morena, de cabelos castanhos escuros, trajava um belo vestido carmim de gola fechada, uma corrente dourada e um batom da mesma cor do vestido. Tinha os cabelos presos e a expressão séria. Da mesma forma estava seu marido, aquele senhor elegantemente vestido com um de seus melhores ternos, cabelos engomados e um bigode sutil, característico da época. E até hoje, aquele casal permanece. Tiveram 9 filhos, todos se casaram, tiveram seus filhos e os filhos tiveram filhos...num ciclo infinito. Hoje ela cuida dele, ele cuida dela...talvez isso nunca tenha a necessidade de se acabar...e quando se forem dessa vida, permanecerão cuidando um do outro como fazem hoje.
 Ela não acredita que viva anos tão longos numa vida a dois como aquele casal, embora deseje. Também duvida da sua capacidade de sustentar os percalços comuns de um casal por anos a fio, mas sentia muito orgulho da superação deles.
Após muitos anos, como todo casal, o silêncio entre eles se fez gritante. Talvez durante as noites, muitas vezes insones, eles sejam tão silenciosos quanto o retrato naquela parede.
Mas também são eternos, como só um retrato pode ser.


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