quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

nudez



Diiante do espelho era apenas ela. Desnuda, cabelos soltos e olhos transparentes. Há tempos não se via tão insegura e desprotegida do que era realmente. Era a melhor e a pior imagem que tinha de si. Era assim que recordava de todos os seus momentos, era assim que se sentia ela, era assim que se sentia o mundo. Olhava para o fundo dos seus próprios olhos e dava um forte suspiro. Era como se vivesse tudo aquilo de novo. Era como se nada daquilo tivesse realmente acontecido tão vívidas eram suas lembranças que beiravam a insanidade da própria imaginação. Era como se nada tivesse deveras passado como passou o tempo. Porque tantas portas, porque tanto verde, porque tantas verdades, porque tantas voltas no velocímetro. Porque tudo isso tão longe. Porque tão perto. Diante do espelho era ela, desnuda. Diante do espelho era ele, distante.


















quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Ato de contrição.

Confesso que pequei ainda que considere meu pecado perdoável.
Aliás, ele sempre foi o esse: o pecado pelo excesso.
Sou tudo em demasia, sem meios termos, tudo atingindo as beiradas e o limite.
Testo esse limite e quando o atinjo, sinto que fui longe demais.
Logo, peco pela ilimitação também.
Minha ira quando noto que atingi o ápice dos sentidos também faz de mim uma pecadora.
Meu limite (o mesmo que atinjo) entre a ira e a paixão pela ira me fazem uma garantia de que meu lugar não é o céu.
Peco pela falta de confiança, pela fragilidade da alma, pelos dedos que traem diante da face, e ainda que não me ofereçam-na, atinjo-as.
Me assumo pecadora, peço redenção. Se não houver, continuarei carregando o rosário e os pecados no fundo do peito, pois o veneno que assola, é o mesmo que cura.