que ela dure
mais um dia
mais um ano
mais uma era
mas que dure
e seja eterna
essa primavera
verei outras eras
ou só até
a primavera?
'Chamavam-na de louca. E ninguém ousava contrariar. Afinal, naquele vilarejo, o que o padre ou as velhas carolas da igreja diziam, era palavra de ordem. Mesmo tendo sido criada dentro daquele ambiente, tendo pais rígidos quanto a educação das suas filhas, ela era um peça fora do jogo. Benzeram-na quando pequena. A alma daquela criança devia ter sido tomada por algum espírito demoníaco, ‘Aonde já se viu, arrancar a cabeça das bonecas e colocar fogo assim?’, diziam as beatas .Na adolescencia bebia. Matava as aulas no colégio, embriagava-se e dormia com donos de bar para pagar a conta. E na vida adulta...ah, na vida adulta...ela nem chegou a crescer. Casou-se oito vezes, não teve nenhum filho e reza a lenda que matou pelo menos 3 maridos e com um deles, doou os órgãos para o mercado negro para comprar uma fruteira de metal. ‘Toda boa dona de casa e com bom gosto, quer uma fruteira de metal na mesa da sala de jantar!’. Terminou assim, louca. Uma mansão no fim da rua, sem jardim, (uma vergonha ter uma casa sem jardim) vivendo com seus 5 gatos e bebendo whisky o dia todo enquanto joga paciência. Dizem até que nesses 68 anos de vida, se teve uma frase que nunca saiu de sua boca foi ‘eu te amo’. Ela diz que nunca amou. E que o único homem do qual foi dependente, mas só até os 10 anos, quando descobriu que uma mulher nunca precisa pagar a conta se tiver a certa “disposição”, foi seu pai. Mais ninguém. E também nunca o amou.
Alguns dizem que é falta de amor. Outros, que é louca.'
Esse é o Playmobil. |