quinta-feira, 4 de outubro de 2012

ponto de partida

Ficou ali em silêncio, velando pelo sono profundo em que ela se encontrara.
Fazia quase uma hora que aquele era o único som em que ouvia...acompanhava o peito dela se movimentando unido às batidas de seu coração. Aquilo doía profundamente.
Levantou-se, caminhando suavemente pelo assoalho de madeira, por aquele quarto que cheirava a incenso, a sabonete de ervas finas, à perfume de catálogos baratos. O vento que entrava pela janela provocava-lhe um arrepio que atingia-lhe o fundo d'alma. Parou diante do espelho do guarda roupas e fitou profundamente aqueles olhos tristes que se posicionavam olhando-o diretamente. Pegou o diário na estante, desceu as escadas silenciosamente, girou a chave dourada, puxou a maçaneta e saiu, segurando-o firmemente contra o peito e sentindo o coração batendo mais forte quando viu o carro daquela que estava tirando-o de sua vida segura, de sua vida certa, de seu porto maior. Apresadamente entrou no carro e não mais sentiu aquele cheiro, não mais sentiu aquela presença, não mais se sentiu. Nem mesmo aqueles olhos claros, aquelas mãos macias, aquele batom vermelho, comparam-se ao ar que aquela mulher que repousava naquele quarto escuro no andar de cima lhe oferecia. Mas estava mais do que comprovado: ele não a merecia. Estava mais do que certo: deveria partir. Era mais do que claro: era pra sempre.








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