quinta-feira, 23 de agosto de 2012

retirada.

O silêncio atingiu o ponto mais alto daquela noite.
Saltos altos dos apartamentos vizinhos ecoavam pelos corredores enquanto naquela casa silenciosa só restava o vazio. Móveis cobertos do que antigamente era um lar, e hoje era apenas comércio.
Na cabeça dele, o vinho estava amargo demais, o vento gelado demais, e o silêncio falava alto demais; motivo mais que suficiente para que, aos brados, exigisse que ela melhorasse seu paladar, fechasse as janelas e começasse a dizer o que pensava, pois aquele era o extremo em que chegariam.
Já para ela, restavam os próprios contra-argumentos que raramente surtiam um bom efeito, as lágrimas e o sentimento de 'eu sabia que seria assim', ou 'minha mãe me avisou que era tudo muito rápido'. Ela sentia que tudo chegaria nesse ponto quando passou a reviver uma vida em um dia. Não mais vivia o agora. Se prendia a lembranças do que havia sido, do quão próximo estiveram e de quanto tempo levaria até que aqueles laços (que já se transformaram em nós) finalmente se desfizessem. Enquanto isso ela fazia as malas. E guardava carinhosamente o retrato, daquele fim de semana em que eles se sentiram inatingíveis, acreditando que não se cortaria dançando sobre os cacos daquela história.





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