quinta-feira, 29 de março de 2012

escuridão.

É dia ou é noite.
Assim segue-se uma regra perpétua que nenhum tipo de influência cósmica muda. O percurso da troca do dia pela noite e vice versa é inerente e inalterável.
Exceto em algumas vidas, que a noite se faz onipresente. É quase como um copo de whiskey eterno. Um amargo no fundo da garganta que parece impossível de ser digerido.
Assim vivia aquele homem que lentamente caminhava pela escuridão. Não sobrevivera a uma dor de amor e era como uma alma penada vagando pelas ruas sem fim, sem saída, sem rotas e rumos.
Camisa mal passada, mão nos bolsos, cabeça baixa...só se encontrava em mundos que não lhe pertenciam...mundos paralelos aos seu que não passavam de mera utopia.
Assim viviam aqueles que gastavam toda sua tristeza nos maços de cigarro barato, na bebida mais forte do boteco mais barato, na camas mais vazias da madrugada.
Em meio àquela selva de pedra, com janelas acesas a brisa da madrugada fria anunciava as almas que morriam enquanto balançava lentamente as cortinas que cobriam apenas o essencial a vista.
Assim vivia aquele casal que passava noites fitando as paredes laterais do quarto e sentindo o cheiro do casal que se amava a noite toda na casa vizinha ao invés de admirar o olhar um do outro em noites silenciosas.

É dia ou é noite.
Talvez seguir uma regra não seja a forma mais coerente de se viver os dias...ainda que o desespero seja dilacerante e o estômago viva com um nó impossível de desatar e que impeça que o ar atinja os pulmões, empurrar a dor pra baixo do tapete é uma decisão segura na maioria das vezes. Guardá-la numa mala e fingir que nunca existiu, que os arrependimentos nada mais são do que os ensinamentos de um carrasco que nos ensina a morrer no momento em que passa a lâmina da guilhotina no pescoço da vítima injustamente morta pela frieza.


Aliás, quanto frio faz nesse quarto...como balançam essas cortinas...
hora de fechar as janelas antes que as almas atravessem o corredor...

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